Ainda estamos em Janeiro, ainda posso falar sobre resoluções de ano novo. Mas antes de revelar as minhas, acho importante compartilhar uma reflexão: minha relação com o Sagrado.
Desde bem menina (8, 9 anos) sempre fui atraída por todo tipo de mistérios e assuntos ditos ocultos, divinos e religiosos. Tinha imensa curiosidade sobre as histórias, os milagres, os feitos inexplicáveis, invisíveis e impossíveis.
Nessa época, eu também tinha muitos pesadelos. Sofria um terrível medo à noite e costumava passar para a cama da minha mãe no meio da madrugada. Um dia ela decidiu me levar a uma benzedeira, uma senhora ucraniana bem idosa, que rezava em sua própria língua com um prato cheio de água sobre a minha cabeça, onde ia pingando uma vela acesa de cera de mel. Jamais esqueci o aroma daquela cera que, derretida na água, ia formando figuras que ela interpretava depois como o objeto dos meus pesadelos. Retornamos lá várias vezes. Acredito que funcionou de alguma forma, porque fui crescendo uma criança mais calma, mais segura de si e os pesadelos sumiram com o tempo.
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A Bíblia Ecumênica ganhei do meu pai, uma bela edição da Ed Paulinas e a cruz ortodoxa de minha mãe. |
Minha família é católica romana por parte de pai (mas meu pai se declarava ateu) e cristã ortodoxa por parte de mãe (com quem aprendi a rezar e a me conectar com o Divino). Seguindo com o interesse que nunca me abandonou, já na adolescência eu lia tudo o que se relacionava com a história das religiões, devorava livros sobe Mitologia Grega (minha grande paixão por muitos anos e creio que até hoje), e gostava de ler a Bíblia, Velho e Novo Testamentos, como se fosse um romance.
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Acho lindinho esse Estandarte do Divino, feito com chita colorida, uma estrelinha na ponta amarrada em fio de algodão, muito popular no Nordeste do Brasil. |
Mocinha, me interessei por Astrologia e, junto com minha amiga Lívia Guimarães (que já escreveu por aqui e acaba de inaugurar seu blog www.maletaamarela.com.br) fizemos um curso súper bacana com uma astróloga amiga dela, que nos ensinou a fazer mapas astrais e nos introduziu aos livros da Susan Miller, naquela época só cohecida por estudiosos, hoje um fenômeno de massa, inclusive no Brasil, com seu site www.astrologyzone.com. O livro que mais me marcou se chamava A Astrologia do Destino.
E com isso de tentar antecipar o futuro e interpretar os sinais do presente, fui navegando de forma diletante e curiosa nesse universo tão rico que forma o campo do Sagrado. Conheci assim os oráculos, o I Ching, o Tarot, o Jogo de Búzios, os rituais do Candomblé, da Umbanda, do Espiritismo, os Amuletos e a sabedoria oriental através do Budismo. No fundo, muitas maneiras de abarcar um universo que vai além do concreto e palpável, mais sutil, mas sobretudo tão humano.
Virei uma executiva em uma grande empresa, trabalho muito intensamente e vivo um cotidiano bem material e tangível, com causas e consequências bem claras. O que me torna muitas vezes ansiosa e controladora.
Mas o longo período de aprendizado na juventude não desapareceu e deixou um legado, apesar de não ter me tornado religiosa praticante de nada. Me ensinou a relativizar as coisas, a respeitar forças que desconheço e a ver a vida de forma mais confiante, no sentido de ter fé. Um sentimento absoluto, que não demanda explicação: está lá e pronto.
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Nossa Senhora de Guadalupe, em arte popular mexicana. Trouxe do tempo em que morei no México. A devoção à Virgen de Guadalupe é impressionante e muito forte entre o povo mexicano |
Neste final de 2016, minha resolução de Ano Novo foi a de reduzir a ansiedade e tentar controlar menos o desenrolar dos acontecimentos. Viver e curtir mais o instante presente.Como disse a Lilian no post de Reveillon (veja aqui), vamos celebrar mais as pequenas coisas do aqui e agora.
Foi então que em Dezembro, junto com meus filhos, num momento de puro relax, fizemos uma “Maratona Indiana Jones”. No episódio “A Última Cruzada”, com o sempre maravilhoso Sean Connery, Indiana precisa cumprir três tarefas para chegar ao Santo Graal. A terceira delas demanda um “Salto de Fé”: um passo no abismo do desconhecido. É preciso percorrer o Caminho de Deus, o qual você não vê. Mas precisa acreditar. Um passo no escuro, que só se justifica pela esperança. E então refleti sobre quantas e quantas vezes dei passos assim na vida.
O caminho não estava lá para que eu o analisasse de antemão: mas se fez sob meus pés.
Que 2017 venha cheio de descobertas e milagres pelos quais não esperamos.